sábado, 31 de julho de 2010

IV - MITOPOESE I

O UNICÓRNIO




...Jaz a Noite Imensa sobre o mangue...

A cidade surge antes,
das enchentes, das vazantes,
fundação amorfa, sem face, vazia...

A cidade emerge, ser eqüestre,
alça as patas, veste a ventania,
galopa vadia, égua numinosa.

A cidade avança,
besta airosa,
e aponta para o Atlântico o seu chifre calcário.

A cidade é vária:
puta dos batavos, luta de mascates, corsáriomaquia.
Múltipla, mistério:
vila pescadora com matrizes míticas;
titãs com tarrafas, jêjes argonautas,
ninfas pomba-gira, reis iorubás.

A cidade é anfíbia:
ilhas de enxurradas,
sertões arribados sobre palafitas.

(ouve-se o relincho de uma gente aflita...)

Antes, muito antes,
a cidade dá cria (protopoesia?)
sobre os arrecifes que detém o mar.

Vaza a noite um imenso alfanje;
ouve-se o vagido e o sangue
lava as Pedras do Reino da Manhã

(ouve-se um trotar...)



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