O UNICÓRNIO
...Jaz a Noite Imensa sobre o mangue...
A cidade surge antes,
das enchentes, das vazantes,
fundação amorfa, sem face, vazia...
A cidade emerge, ser eqüestre,
alça as patas, veste a ventania,
galopa vadia, égua numinosa.
A cidade avança,
besta airosa,
e aponta para o Atlântico o seu chifre calcário.
A cidade é vária:
puta dos batavos, luta de mascates, corsáriomaquia.
Múltipla, mistério:
vila pescadora com matrizes míticas;
titãs com tarrafas, jêjes argonautas,
ninfas pomba-gira, reis iorubás.
A cidade é anfíbia:
ilhas de enxurradas,
sertões arribados sobre palafitas.
(ouve-se o relincho de uma gente aflita...)
Antes, muito antes,
a cidade dá cria (protopoesia?)
sobre os arrecifes que detém o mar.
Vaza a noite um imenso alfanje;
ouve-se o vagido e o sangue
lava as Pedras do Reino da Manhã
(ouve-se um trotar...)
►alea índex
► V