Depois de ouvir por tantos anos
O apito da fábrica,
Pendurar-se nos ônibus lotados,
Não perder o ponto, feito máquina;
Que faz agora o aposentado?
Trapo jogado nos subúrbios
A ver passar horas tão lentas,
Ai! Morte lenta...
Depois de anos de marmita,
De madrugar frios invernos,
De labutar sol e sereno,
Domingos no revezamento,
O que é de ti?
Foste enjeitado:
A pátria à qual serviste não te reconhece;
Os obesos patrões não lembram teu suor;
Condenaram-te a viver nessa desdita;
Sugaram teu vigor na mocidade.
Falavam com palavras tão bonitas:
Trabalho, Paz, Família e Liberdade.
Logrou-te a ilusão capitalista.
Hoje enfrentas uma velhice desonrosa,
Prisioneiro de uma pobre vida aflita...
Procura, em tua rua,
Uma árvore frondosa
Que te proteja deste sol na estrada,
E, à sua sombra, ajunta os camaradas;
Goza o que te resta dos anos de labor:
A cachaça
O baralho
O dominó
Nessa miséria, aposentado,
Infelizmente,
Não estás só...
Jorge Dantas
(Em memória dos valentes, Pedro Figueiredo, Manoel Pereira, e Honório. )
►alea índex
►XXXIV