sábado, 31 de julho de 2010

XV- MESTRE JÖHAN LINZ

(inserir foto da fachada do Clube Franz Post)




Conheci o Clube Franz Post levado por uma ex-namorada de nome Marília Spencer, jornalista, militante política e repórter fotográfica; moça inteligente, sensível, radiante: uma personalidade solar. Era natural de São José do Belmonte, cidade das pedras encantadas. Por isso talvez tão cheia de fé na vida, tão forte e lutadora. Uma sertaneja de boa estirpe. Militava clandestinamente, engajada num desses pequenos partidos de esquerda. E foi por isso que me convidou para ouvir o velho professor de Belas-artes da Universidade Federal. Queria saber o que pensava o Mestre sobre o regime implantado no Brasil há quase uma década, pela extrema direita das Forças Armadas.

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(INSERIR FOTO)

Marília, em seu exílio voluntário. ALBÂNIA, 1974.
(os cabelos negros perderam a cor, nesse disfarce )

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A bem da verdade, fui até lá mais interessado nas belas pernas da moça do que na palestra. Não era muito afeito às questões políticas cotidianas. Eu era um poeta. Não, um militante. No entanto, ao ouvir ecoar naquele sobrado colonial do Poço da Panela, a voz pausada e suave do velho professor de Belas Artes...

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...Era um discurso sereno, mas inovador, em que pontificava a idéia da Protopoesia. Essa idéia calou profundamente em minha alma. Suas palavras eram claras, luminosas, como as tintas de um outro holandês, trazido por Maurício de Nassau e cuja obra saturava de cor as paredes do imenso casarão.
Depois daquele dia, minha obra e tudo o que eu entendia de arte anteriormente, tomaria novo rumo. Eram novas palavras de uma nova concepção de mundo: Esferismo, Intra-história e essa Protopoesia, ou seja, a Poesia-em-si, enquanto fundação aórgica das matrizes míticas da realidade. O Mestre revisitava a pura revelação filosófica do dionisíaco Vicente Ferreira da Silva, brasileiro, nosso e quase anônimo filósofo.
Decerto eram idéias do começo do século XX. Em geral de pensadores ibéricos, que não estavam na moda, como os alemães. Lembrem-se que, nesse tempo, só se podia filosofar em alemão. Risível, isso. Mas era o que se dizia.
O Mestre, agora, ia buscar as idéias de um mundo translúcido, em que se podia ser plural, em plena época de maniqueus empedernidos, a esbravejar à esquerda e à direita, suas palavras de ordem.

"É preciso não ser uniprismatista. Girem o objeto e o vejam por todas as faces e ângulos... "

"Indico-vos, pois, jovens escritores dessa cidade-das-pedras-que-seguram-o-mar, o caminho embriagador da Protopoesia, da entrega amorosa às forças oníricas, à ondulação da vida, da geografia enquanto epifania numinosa dos deuses... "

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Naquele dia, nasceria a mais frutífera amizade que eu teria em toda a minha vida. Os muitos dissabores que aquela moça posteriormente iria me trazer, seriam todos perdoados pela chance que me deu de conhecer aquele homem admirável. Jamais esquecerei do Prof. Dr. Jöhan Mauritius Linz, o pai do Esferismo. Verdadeiramente, uma grande alma!


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