sábado, 31 de julho de 2010

XIV - PÊNDULA

Na varanda oeste, a velha rede balança. Tenho a sensação de quem se deixa levar por um rio e também pelo sonho. Do poente, vem o remoto grito de um pássaro. Flutuamos, eu e a rede, no sonho. Interessante: nunca boiei. Nunca consegui me deixar levar pela correnteza das águas, como quem sonha. E isso é, de fato, uma falha de minha personalidade, o não-boiar.

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As pêndulas horizontais são utilizadas no estudo das marés terrestres, desde 1831. Dizem que um astrônomo alemão descobriu esse instrumento acidentalmente. Balançava-se em uma rede na varanda do seu observatório, absorto em seus graves pensamentos geofísicos, quando uma intuição lhe veio à mente:

"Movimentos pendulares das marés. Ritmo. Fases da lua. É isso!"

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A Terra e a Lua brincam de burrica.
Sobe uma, desce a outra, na gangorra celeste:

Para onde vai a água da maré quando some na vazante? Para o mar? Mas a água do mar também some?
Sei não, meu filho! Deve ir para a África distante. Para o outro lado da Terra.

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Quando eu for gente grande quero estudar as estrelinhas! Os planetas, os mares da Lua... Deve ser muito bonito viajar de balão e ver a Terra balançando no espaço feito um pêndulo!





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