APRESENTAÇÃO

Quando adolescente eu narrava muitas estórias de Trancoso,
os tais contos da Carochinha.
E me ouviam, atentas, duas sobrinhas: Luísa e Emília.
Era a minha pequena platéia.
Eu narrava cheio de mesuras,
dando sabor às peripécias de heróis fabulosos
e às astúcias de meninos pobres, que se tornavam reis,
ora decifrando difíceis enigmas, ora realizando arriscadas tarefas.

Toda estória era em linha reta:
um caminho e um personagem em ação.

E eu narrava na mais pura tradição das gestas,
da efabulação, dos antigos contadores de estórias.
Narrar assim refletia um tempo sossegado.
Tardes compridas com redes estendidas sob árvores frondosas.
Tempo das cantigas de roda, garrafão, pega-pegou, queimada.
Tempo do jogo da amarelinha,
que no nordeste se chama "pular cademia",
não me perguntem por quê.

***

Minhas sobrinhas cresceram e o tempo mudou.
Não há mais os jogos de rua.
Já não se encontram crianças a brincar de roda.
Nem há paciência para contar/ouvir estórias.
Veio a televisão. O videogame. A internet.
O mundo ficou cada vez menos mágico e lúdico.
(E, infelizmente, cada dia mais trágico.)

Mudou também o jeito de se narrar uma estória.
As imagens tomaram de assalto o universo narrado.
Os livros infantis são mais ilustrações do que texto.
E os fatos do mais cotidiano das pessoas
são registrados por fotos digitais.
Esse é o mundo da imagem.
E quem quiser narrar algo no mundo de hoje,
terá de forçosamente remeter o ouvinte/leitor
a intermitentes tomadas de cena;
muitos flashbacks e verdadeiros saltos morellianos.
Narrar será concatenar um série de planos e de nexos.
A narrativa moderna urde-se em cinemascope.
E a mente do autor é quase uma ilha-de-edição.

A literatura, sob certo aspecto, é o espelho de seu tempo.
Por isso,  neste século XXI,
onde a velocidade e os recursos visuais
são imperativos do processo comunicacional,
a linguagem literária requer
leveza, rapidez, visibilidade e multiplicidade,
como nos adverte Italo Calvino.

É sob essa premissa, que, hoje, 30/07/2010, inicio a publicação on-line dessa "narrativa experimental":
Bóstrix N'água.
Trata-se de um mosaico de textos (capítulos?)  linkados no  blogger, haja vista que não consegui ainda um editor de textos de conformidade com tudo o que planejei, inicialmente.


Luiz Eurico de Melo Neto

P.S.:
com um agradecimento especial ao Éverton Vidal, do blog Re-novidades,
pela insistência em ler essa narrativa experimental.

Sugestão de leitura:
Você pode começar lendo a ADVERTÊNCIA, clicando aqui ou na barra lateral: julho 2010, lá estarão os links dos primeiros capítulos.

Boa viagem pelo labirinto...rsrsrs


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