quarta-feira, 4 de agosto de 2010

XXXIV - MORELLI



p. 486 de Rayuela


— Influências morellianas, meu rapaz?

— Sim, e de tudo o que li. Alguns, como Morelli, li mesmo no original. Mas, creia-me, Mestre, não busco, como ele aconselha, um drama sem édipo, um drama impessoal. Muito pelo contrário. Não me atrevo a almejar a grandeza desse genial Morelli. Na verdade, o recurso de que vou me utilizar, nele inspirado, é aquele que chamei de ‘ornato circular’, ou seja, um desenho enarrativo não-linear.

— ???

— Já me explico: preferi plagiar a sequência morelliana de capítulos, mais lúdica, para não repetir a enfadonha numeração seqüencial e sucessiva de capítulos, comumente usada pelos romancistas. Nisso, pelo menos, serei parecido com aquele mestre da literatura universal.


***

— Busco ainda “compreender por que razão o princípio da indeterminação era tão importante na literatura, por que motivos Morelli, sobre quem eles tanto falavam, a quem tanto admiravam, pretendia fazer do seu livro uma bola de cristal, no qual o micro e o macrocosmo se uniam numa visão aniquilante.”

Seria ele um precursor do Esferismo?





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