domingo, 1 de agosto de 2010

XXIV – TRÍBIOS

...Conversávamos sobre telepatia, pré-cognição e o tempo tríbio freyriano. Serpa Lopes desenhava “Sob o Céu de Van Gogh”. A voz do Mestre ecoava na ante-sala fenestrada. Éramos eternos. Ou estávamos sendo:

***

“a eternidade não está fora da vida presente, mas nela mesma, quando alcançamos a identidade de nossa essência e nossa existência, numa alegria e num amor duradouros, na compreensão e aceitação daquilo que somos: modos da substância divina, forças em expansão, agentes da história e não pacientes dela. A eternidade nada tem a ver com tempo, mas é ausência de tempo...”

***

...e assim perpassa a minhalma, essa obra, essa coisa textual, quase têxtil, quase tessitura, de aranha, bicho da seda...
...ou atravessa-me feito um rio subterrâneo, percorre-me secretamente; flui, silente, ora em finíssimo filete d’água, às vezes, caudaloso, rio atemporal, desliza, heraclitiano, em seu leito volátil.
...o que há em mim de passado é líquido, água lodosa, barrenta, lamacenta...
...rio, regato, córrego, canal, rego, paul: o que há em minha lembrança é fluvial...

...ah!...pequenino rio Triângulo, sinuoso Jequiá, , escondido rio Jordão...ai, Tejipió inolvidável e Pina das marés... que se espraiam na planície de minhalma, onde encontram as lagoas encantadas do delta do Capibaribe...

...íncolas de Afogados, ilhéus do Nogueira, do Leite, do Retiro, olham-me, olhos úmidos, pretéritos, tríbios, freyreanos, eu mesmo um ser aquático, anfíbio, a olhar-me dentro, isso que verto, verbo, jorra de mim, água salobra, insalubre, essas palavras enlameadas, eu...lírico, líquido, eu mesmo em mim...



►XXV

►alea índex


XLIX◄