quinta-feira, 5 de agosto de 2010

LIX - BATE-ESTACAS







...Faz-se um silencio sepucral. Mestre Linz abre a agenda em sua primeira página. Todos entreolham-se curiosos e reverentes. A sombra do Mestre projeta-se, gigantesca, na cumeeira. Ouço um dobrar de sinos. Há uma igreja aqui perto? Desabam sobre mim as palavras do Mestre, marteladas, as palavras, retumbam em uma bigorna. Caem pesadas, as palavras. Pancadas de aldrava em nossos tímpanos. A dútil voz do Mestre rasga uma trilha no silêncio. Ecoam as palavras, minhas palavras, dentro de minhas recordações. Façam-no parar! Não me façam reviver essas dores. Estão surdos? Não quero ouvir isso! Nesse instante, ouve-se lá fora um bate-estacas. Escuto, aliviado, o bate-estacas. Breve erguerão um novo prédio no terreno baldio defronte à casa de meus pais. Ouço o ruído das máquinas. Ruídos modernos da vida. Eh, mundo lá fora cheio de vida! Vozes álacres crianças jogando bola, buzinas, o pio das aves! Salve os ruídos do mundo! Mundo and roll! Pedras rolando! Rumores, canos-de-escape, locomotivas, pedreiras, soam sirenes, cargueiros, mundo lá fora rugindo, ciciando, estrugindo, ferreando! Invadam-me sons do mundo! O bate-estacas enterra estacas em minha alma. Sou um terreno baldio de mim mesmo em frente à casa paterna. Ritmado, o bate-estacas bate estacas. Ritmada, a voz do Mestre recitando. Por favor, parem com isso. Por favor, ninguém me ouve?...




►alea índex



► LX