quarta-feira, 4 de agosto de 2010

XLIII - QUEDA LIVRE







Entre mim e o rio quantos metros? Quantos segundos? Dez metros por segundo ao
quadrado. Entonteço. Vertigem. Ânsia de saltar, pássaro breve. Impulso Livre era o título de um de meus poemas adolescentes. Falava de um salto: a queda em liberdade, o vazio e a brisa, breve carícia em minha face. Dez metros por segundo ao quadrado. Deliciosa, a gravidade; poética, a impulsão...saltei?

O herói aristotélico é um homem bom que comete um erro trágico (hamartia). Caminhar cegamente (peripetéia) é o erro trágico: pretende alcançar um certo resultado e consegue o oposto. Finalmente, chega à percepção da verdade (anagnorisis), ao abrir de olhos, ao tardio clarão que ilumina a escuridão, e reconhece o que fazia a si mesmo.


...Saltei. E o Capibaribe, ou o Beberibe, cães sem plumas cabralinos, estão margeados por faces estupefatas. Capivaras? Rostos estranhos na calçada à cabeceira da ponte Buarque de Macedo. Os passantes me apontam narizes curiosos. O que é que vocês fazem nessa loucura de vida? O que busca essa manada? Ouço o tropel de mil reses, mil, desgarradas. Os filmes que vi na infância. Epopéias sádicas de colonos bretões. Massacres de apaches desarmados. Velhos índios decrépitos, mulheres grávidas e pequenos peles-vermelhas dizimados pela briosa cavalaria americana... saltei?


►alea índex


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