segunda-feira, 2 de agosto de 2010

XXX – WAIA'MU






Tábua de Marés
Baixa-mar # 8h36
Horológio Waia’mu




...Sai, vagarosamente, da loca lamacenta, montado sobre seus cinco pares de patas ambulatórias, o velho e gordo Waia’mu. Emerge, o imenso Uçá, das raízes enlameadas da rizophora mangle. O sol, ainda tímido, rebrilha em sua carapaça de um azul intenso. Ergue, num movimento plácido e solene, a imponente cefalotórax, e espia, cauteloso, toda a extensão da margem da maré. Mexe os olhinhos robóticos, como que fazendo uma varredura em campo minado. Hesita. Vacila. Simula algumas passadas para trás. Depois, com rigor de ordem unida, começa a locomover-se sobre seus dez tentáculos cabeludos. Uma após outra, vai enfiando suas patas de unhas pontudas, nos lugares mais firmes da lama. Os pequenos apêndices situados atrás dos seus maxilares movem-se, a esmo, antenas escatológicas, captando o lixo orgânico. O Uçá balança sobre os detritos, espumeja e saboreia, coprofágico, a escória humana. Baba de prazer, ingerindo os excrementos.

...Assim, o velho e gordo Waia’mu reinicia, com resignada sabedoria, o milenário ciclo vital dos habitantes da maré...




►alea índex


►LIII